Oficinas do CERPAM reúnem especialistas para planejar ações de conservação no Cerrado, Pantanal e Amazônia na UFMS
Entre os dias 25 e 29 de novembro, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande (MS), sediou uma oficina para o planejamento do novo ciclo do Plano de Ação Nacional para Conservação de Espécies Ameaçadas do Cerrado, Pantanal e Amazônia (CERPAM). O evento, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), reuniu aproximadamente 50 participantes, incluindo pesquisadores, representantes de organizações da sociedade civil, órgãos ambientais e instituições acadêmicas de diversas regiões do Brasil.
O objetivo central foi delinear estratégias para enfrentar as principais ameaças à ictiofauna, herpetofauna e primatas desses biomas, com um plano ambicioso que busca promover a conservação de mais de 50 espécies até 2030. A oficina resultou no planejamento de 48 ações específicas que visam combater ameaças como a expansão agropecuária, construção de hidrelétricas, queimadas e poluição.
De acordo com Douglas Alves Lopes, doutor em Biodiversidade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), que participou do evento, o CERPAM tem um papel fundamental na estruturação das medidas de conservação. “O CERPAM é um plano nacional que envolve múltiplas etapas, desde a seleção de pesquisadores até a elaboração de metas e ações. Nesta oficina, tivemos a oportunidade de identificar impactos importantes em temas como práticas agropecuárias, hidrelétricas e poluição, além de traçar diretrizes para enfrentá-los”, explicou. Ele destacou que os impactos das hidrelétricas são especialmente graves para a ictiofauna, pois prejudicam a conectividade dos rios e comprometem rotas de migração essenciais para muitas espécies. “Os meios de transposição, como escadas ou elevadores de peixes, frequentemente falham, resultando na morte de indivíduos que não conseguem completar seus ciclos migratórios”, complementou.
Apesar dos desafios, avanços significativos foram alcançados. Segundo Lopes, duas espécies de peixes ameaçados em Mato Grosso do Sul receberam atenção especial: Characidium chicoi e Loricaria coximensis. “Essas espécies ocorrem em áreas prioritárias, como as cabeceiras do Rio Taquari, a região do rio Correntes, e outras partes do planalto que drenam a bacia do Pantanal. Essas regiões foram identificadas como cruciais para a conservação devido à presença de populações saudáveis”, afirmou.
Entre as iniciativas destacadas, ele mencionou sua colaboração em três ações importantes. Uma delas visa melhorar os processos de licenciamento ambiental, com a elaboração de diretrizes que serão levadas ao poder legislativo. Outra iniciativa envolve o monitoramento e manejo das populações de Characidium chicoi e Loricaria coximensis, buscando dados sobre sua história natural e estado de conservação. Por fim, ele participa de uma ação voltada para boas práticas em aquicultura, com o objetivo de evitar escapes de espécies não nativas e promover uma produção mais sustentável.
O professor Diego Santana, do Laboratório Mapinguari da UFMS, atuou como anfitrião do evento, que também contou com o apoio logístico de sua equipe. Para ele, o trabalho conjunto de pesquisadores, gestores e organizações é essencial para enfrentar os desafios crescentes da conservação em biomas tão diversos.
A visão de futuro do CERPAM é ambiciosa: até 2050, busca-se manter populações viáveis das espécies-alvo, com o engajamento de diversos setores da sociedade e a superação dos desafios impostos pelas mudanças ambientais. Para mais informações sobre o plano e acompanhar sua implementação, acesse a página oficial do CERPAM.
Fotos: Mapinguari Lab.