O Bioma do Chaco: um tesouro ambiental ameaçado
O Bioma do Chaco, localizado no coração da América do Sul, é um dos ecossistemas mais ricos e menos conhecidos do continente. Abrangendo mais de 1 milhão de km² entre a Argentina, Paraguai, Bolívia e o Brasil, o Chaco é a maior floresta seca subtropical do mundo. No Brasil, sua presença se restringe ao extremo sudoeste de Mato Grosso do Sul, particularmente no município de Porto Murtinho.
Com uma vasta diversidade de ecossistemas que vão de savanas secas a áreas alagáveis, o Chaco abriga mais de 3.400 espécies de plantas, além de uma fauna rica, com 500 espécies de aves e 150 mamíferos. Sua importância ecológica é inegável, porém, o bioma enfrenta graves ameaças.
Nos últimos anos, o Chaco tem sido alvo de desmatamentos acelerados, principalmente devido à expansão da agropecuária. Desde 1985, a região perdeu aproximadamente 14 milhões de hectares de vegetação nativa, sendo grande parte destinada à produção de soja e à pecuária para exportação. O desmatamento ilegal é uma preocupação crescente, já que muitas das atividades agrícolas ocorrem sem fiscalização adequada. A exploração madeireira também agrava a situação, com impactos significativos na biodiversidade.
Além disso, o avanço da construção da Rota Bioceânica, que liga o Brasil ao Pacífico, pode afetar diretamente a vegetação remanescente do Chaco brasileiro, ampliando os danos ao ecossistema. Essa infraestrutura, destinada a facilitar o comércio internacional, poderá aumentar a pressão sobre áreas ainda preservadas.
Perda de Diversidade Genética: O Alerta da UFMS
Um estudo da UFMS revelou uma preocupante perda de diversidade genética em espécies nativas do Chaco brasileiro. O projeto, que envolveu diversas áreas de pesquisa, como genética de populações e ecofisiologia, mostrou que, além da riqueza de espécies, há uma necessidade urgente de preservação. Segundo a pesquisa, a perda genética ameaça a resiliência das espécies, o que pode levar a extinções e à redução da biodiversidade a longo prazo.
Os pesquisadores destacam a importância de ações voltadas à preservação, como a criação de Unidades de Conservação que incluam os remanescentes do Chaco no Brasil. A sensibilização de proprietários rurais também é fundamental para garantir que áreas de vegetação nativa sejam preservadas.
A professora Ângela Lúcia Bagnatori Sartori, coordenadora do projeto “Angiospermas do Chaco Brasileiro”, tem sido uma das vozes mais ativas na pesquisa e conservação do bioma. Em seu trabalho, Sartori alerta que algumas espécies, como a Prosopis rubriflora, podem levar até 300 anos para recuperar sua diversidade genética após a degradação causada pela pecuária e pelo cultivo de soja. Além disso, atualmente, ela tem conduzido pesquisas sobre a modelagem de espécies de leguminosas endêmicas do Chaco, ajudando a entender melhor a distribuição e as ameaças enfrentadas por essas espécies.
A professora ressalta que, apesar dos produtos gerados pelos dois projetos iniciais, o grupo de pesquisadores da UFMS sente falta de ações efetivas voltadas ao reconhecimento e preservação do Chaco no Brasil. Segundo ela, o conhecimento gerado precisa ser traduzido em políticas públicas que garantam a proteção desse ecossistema único.
Reconhecimento como Bioma Brasileiro
Em uma ação recente, o deputado estadual de Mato Grosso do Sul, Pedro Kemp, solicitou ao governo brasileiro o reconhecimento oficial do Chaco como um bioma do país. Atualmente, o Brasil reconhece seis biomas principais, mas o Chaco ainda não é incluído nessa lista. O reconhecimento formal permitiria a criação de políticas públicas voltadas para a conservação do bioma, garantindo uma proteção mais efetiva de sua biodiversidade única. Segundo Kemp, é urgente que tanto o governo federal quanto o estadual adotem medidas para preservar as áreas restantes, que hoje representam apenas cerca de 13% da floresta original.
Soluções e Perspectivas
A conservação do Chaco requer ações coordenadas entre governos, organizações ambientais e comunidades locais. Além de pressões para políticas mais rígidas, a criação de unidades de conservação e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis são fundamentais para garantir a sobrevivência do bioma. Iniciativas de reconhecimento cultural, como o uso sustentável do Pau Santo pelas comunidades indígenas, também desempenham um papel importante no manejo sustentável da região.
O futuro do Chaco depende dessas ações urgentes para que esse ecossistema singular continue sendo um refúgio para a biodiversidade e um exemplo de convivência harmoniosa entre o ser humano e a natureza.
Referências:
BUENO, L. Perda de diversidade genética alerta para a necessidade de preservação do Chaco brasileiro. UFMS, 17 set. 2018. Disponível em: https://www.ufms.br/perda-de-diversidade-genetica-alerta-para-a-necessidade-de-preservacao-do-chaco-brasileiro. Acesso em: 28 set. 2024.
CLIMAINFO. Produção de soja intensifica desmatamento do Gran Chaco. 06 jul. 2021. Disponível em: https://climainfo.org.br/2021/07/06/producao-de-soja-intensifica-desmatamento-do-gran-chaco. Acesso em: 28 set. 2024.
SANCHEZ, I. Riqueza natural de MS, Chaco é ameaçado pela criação de gado. Campo Grande News, 21 ago. 2018. Disponível em: https://www.campograndenews.com.br/meio-ambiente/riqueza-natural-de-ms-chaco-e-ameacado-pela-criacao-de-gado. Acesso em: 28 set. 2024.
SARTORI, Â. L. B.; SOUZA, P. R. de; ARRUDA, R. C. de O. Chaco: caracterização, riqueza, diversidade, recursos e interações. Campo Grande: Editora UFMS, 2021. Disponível em: https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/4217.
THOMAS, J. A. A floresta esquecida: um ecossistema pouco conhecido pelos brasileiros, o Chaco, comumente associado aos vizinhos sul-americanos, está ameaçado de devastação. VEJA, 17 ago. 2018. Disponível em: https://veja.abril.com.br/revista-veja/a-floresta-esquecida. Acesso em: 28 set. 2024.